Eramos um

Poesia, Escritos, Contos e Mentiras de um cara que pensa que é três!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Os Sábados do Seu Domingos

JPVeiga

Apelido safado, Seu Domingos – só aparecia na praia na manhãzinha do domingo, mala do carro cheia de cerveja, rede e petecas.
Fundara o Arpeclú – Arpoador Peteca Clube – clube sem regras, sem sócios e sem vergonha. Jogava quem queria!
Bom de papo, bom de copo e cheio de alegria, de Seu Domingos não se sabia muita coisa. Onde, quando, em quê e como trabalhava, era uma incógnita – sabiam apenas que era de boa família, engenheiro, e que durante o resto da semana sua vida era um mistério.
Chegava na praia, armava a rede e, brincando com todos ficava esperando a turma chegar.
Ipanema antiga, praia vazia, os carros passavam devagar e o pessoal enchia a cara enquanto os “atletas” jogavam a peteca, tentando fazê-la atravessar a rede, esperando apenas o jogo (pretexto esportivo) acabar para entrar na gelada. E a manhã e a tarde corriam num papo gostoso e cheio de graça.
Acabava a cerveja – e o jogo – iam todos para o “Pé Sujo” perto do final do Arpoador – e a coisa continuava – papo, frango frito e tome cerveja.

Seu Domingos de olho comprido para a caçula da turma, dizia piadas e se chegava – e se chegava e se chegava. Chegou!

A Lourinha gostou do papo e marcaram um cinema para a noite.
O resto da turma, cheio de dedos para com a mocinha, dividiu-se em conversas. Que o pai dela, que a mãe, que ela era a menor da turma, que todos eram responsáveis por ela e tal e coisa; e Seu Domingos afinal, por mais que fosse querido por todos, não era flor que se cheirasse – sabiam por ouvir dizer que ele tinha uma “garçoniére” em Copacabana, achavam que ele era isso e aquilo, que tinha uma moto Vulcan e andava com garotas na garupa. Diziam que ele ia muito ao Bola Preta e que quando mulheres passavam pela areia enquanto ele jogava, ele, estufando o peito mandava beijinhos! Ora! Ao mesmo tempo ele era muito querido e muito temido – e agora tava de olho no brotinho da turma!

A noite foi tranquila: cineminha no Leblon, bolinho de bacalhau no Zepellin e té loguinho sem beijinho.
Bem que ele tentou, mas o Brotinho, neca!

Domingo seguinte. Praia vazia, rede armada desde cedo, Seu Domingos esperava a turma - e falava que suas intenções eram sérias, que isso e que aquilo – falava que o Broto era o que ele, quarentão estava precisando e que ela estava caidinha.
O jogo começou, a cerveja foi aberta e o Brotinho chegou. Papo vai e papo vem, marcaram para a noite outra vez e, de novo cineminha, bolinho e apertinho de mãozinha! Que coisinha!
Na porta da casa dela, Seu Domingos puxou um papo furado. O pai dela abriu a janela e convidou – entre, venha conhecer o resto da família.
Pombas! – 3 irmãos e 2 irmãs – uma irmã, campeã de lançamento de dardos, namorava alguém da Turma dos Cafajestes, outra era noiva de um Capitão, um irmão jogava nos amadores do Fluminense, outro era também engenheiro e brigão e o último, grandão, gritou na entrada:

- Ah, é você que anda se chegando pra minha irmã?

Seu Domingos ficou pequenino. Distribuiu sorrisos e rapidinho saiu.

Domingo seguinte ele chamou o Broto num canto e perguntou se afinal estavam ou não namorando. Ela disse que achava que sim, mas aquela coisa de só se encontrarem aos domingos era muito estranha. As desculpas foram as mais variadas, que a mãe, que a avó, que o trabalho. E saíram outra vez – cineminha, bolinho e finalmente um beijinho! Vitória!, o beijo selava o compromisso – só faltava agora ela andar na moto!

Semana cheia para Seu Domingos, muito trabalho, muitas reuniões e muita lembrança do Broto. Ela não saia da cabeça. Será que ela era a mulher da vida dele? Será que ele deveria investir nisso – que pureza, quanta sensibilidade, inteligente, politizada, discutia o fato do pai ser Anarquista e ex-exilado com a desenvoltura de uma militante – Professora de História! – trabalhava! - era bom demais pra ser verdade! Tinha que ter alguma coisa errada nessa coisa! Tava tudo muito certinho demais. Mas, por outro lado ela não saia do seu pensamento, a tal ponto dele abrir mão de compromissos inadiáveis com uma morena do Grajaú e se deslocar até Ipanema, num sábado!
Todo catito, cheiroso e com cara de santo, Seu Domingos bateu na porta da casa da Lourinha as 6 horas da tarde.

- Ela está?
- Quem? Perguntou uma irmã.
- O Brotinho!
- Ah! Saiu com o namorado.
- O namorado? Êpa! Mas o namorado sou eu! Quê isso? Estamos
namorando já há quase um mês – que coisa é essa, deve haver um
engano.

Deixa eu ver..., parou para pensar a irmã – isso! hoje é Sábado... é, ela saiu com o namorado da semana, você, que só aparece aos Domingos, é o namorado do fim de semana!
Bofé!
Seu Domingos sentou na escada de entrada do prédio, pensou muito, esperou a Lourinha chegar, se acertou, ficou noivo, casou e juntos tiveram quatro filhos, um dos quais, eu, cheio de saudades dele, escrevi essa história.

Pombas!

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Quem somos nós? Somos 3 em 1!!! JPVeiga - Variz da Meiga e Mariz Conzê - Vou contar sobre um deles: JPVeiga Peixes, Serpente no Horoscopo Chinês, filho de Oxum, aprendeu a ler já velho, com 7 anos, o pai queria tanto que ele fosse engenheiro, quase foi arquiteto, é Diretor de Arte, Ilustrador e Pintor, escreve para crianças desde sempre. Tem 3 filhos e uma neta, é casado e não pretende mudar essa condição. Mora como os sapos - na Lagoa.