Eramos um

Poesia, Escritos, Contos e Mentiras de um cara que pensa que é três!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Amém



Mulher
Esta é a tua rima
E dentro,
Ela é a razão
E a falta dela

És uma atômica explosão
E o enorme silêncio
Posterior
 
És a febre
E o tremer
És o calor
E a falta dele

Mulher,
Em tua rima
És ter
E és o ser,
Por isso,

Ave rainha
Cheia de penas
Que eu esteja convosco
Até o fim de meus dias
Bendita sois vós
Entre as avós
E bendito é o fruto
Que é o vosso ventre
De luz

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MInha Palma Sua Alma

Minha mão é um harém.
E nele,
És a escolhida,
A favorita do Sultão
A minha predileta

Mas só és assim
Porque eu te sonho
E neles,
Não és apenas a professorinha.
Nos meus sonhos de espanto
E de realidade
Sonhos suados de vida
E de sorte
És Beatriz e Carmen
Numa mistura louca
De literatura e música


Nos meus sonhos violetas
De persianas entreabertas
De azulejos pintados
De flores e de frutos
Sonhos inteiros de nada,
És a dona do mar
És a mais bonita dentre todas
As sereias feitas de terra

Minha mão é um harém,
Não apenas porque
Não te tenho na hora
Em que te quero e te preciso
Mas porque eu te vingo assim
Fazendo vingar as outras
Com o tempo a me perseguir
Me enredando feito doido
Numa salada de putas
De mentiras sinceras
E de verdades malsãs

Minha mão é um harém,
Para que a ausência tua
Me traga a parca certeza
Que só te terei inteira
Nos pedaços das tantas, tantas
Nos cheiros salgados de mar
De um passado a construir
Num futuro a desbotar

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ontem

Hoje eu acordei Bonsai.
Grande por dentro, ridículo por fora, forte sem que se veja ou se entenda. Tão lindinho e tão torto e esquisito; parecendo apenas um anão de mim mesmo!

Hoje eu não devia ter acordado.
Hoje eu não devia ter.
Hoje eu não devia.
Hoje eu não.
Hoje eu.
Hoje.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Meta: A Física



A minha loucura,
Abrando-a
Sufoco-a
Aos goles de café com fumaça.
Aperto-a
Comprimo-a
Sonhando com cerveja e cachaça.

Mas...

Quando a noite se acende,
Ela aflora.
Ela: a fauna
Dos horrendos bichos
Das minhas noites sem sono.
Que são poucas
E são muitas
De desejo
De vontades
De explodir
Sem saber
Sem querer.

Mas...

Na minha loucura eu queria mesmo
Era ser seu aborto
Seu sangue
Sua roupa usada
Seu pedaço de carne
Perdido
Para sempre.
Para sempre
Teu.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Em Si, Clone!

Variz da Meiga

Idiotas,
Idiotas e cegos!
E burros e otários!
Como é que não enxergam?
Eu, aqui não sou eu!
Eu sai de cena,
Morri, escafedi, desapareci!
Quem vos revela esta farsa sou eu:
Clone de mim mesmo,
Nem minha mulher percebeu!
Nada!
Minhas amantes, parentes,
Amigos e inimigos.
Nadinha, ninguém sequer duvidou
Por um instante, por um átimo,
Que eu não fosse eu!
Há! E no entanto eu sou apenas
Um pedaço de carne,
Um corpo igual ao meu,
Usando e abusando da minha vida.
De tudo o que eu tive,
Sem que possam provar que eu,
Não sou nem nunca fui eu!
Pois bem,
Sou a maior maravilha da criação do homem.
Sou o fim das pesquisas,
Sou o ápice da raça humana,
Aquele que é,
Sem nunca ter sido!
E digo mais,
Agora que estou me expondo,
Contando toda a verdade,
Não poderia me furtar a dizer
O maior segredo do lado de cá!
Sim, do outro lado da vida.
Calma, imbecis, calma,
Já vou dizer o que todos querem saber
E passam a vida toda tentando adivinhar!
Sim, Deus existe,
E ela é negra!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Fausto, eu? Auto-retrato sem rimas

JPVeiga



Sua alma, por favor.
 
Alma, sim, ouvistes bem, a alma! - sussurrava o Diabo em meu ouvido.

Eu faço um negócio agora...
Dar-te-ei o que quiseres, qualquer coisa!
Dinheiro?
Pagas o que deves e ainda terás muito, muito mais!
Vida eterna?
Viverás para sempre!
Vamos lá,
Apenas quando achares que está tudo bem,
Darás-me tua alma!
Não dói,
Veja:
Teu dinheiro já é dos unibancos,
Teus pulmões das souza cruzes,
Agora, dando-te esta especial oportunidade,
Livra-te das dívidas, ficas endinheirado e...
Ganhas a vida eterna ao meu lado!

Hum!
Muitos anos, muitos filhos, muitos casamentos,
Faltando o apêndice, as amígdalas e parte da orelha esquerda!
Cheio de drogas, álcool, política, artes, literatura!
Não sabes que estas coisas destroem a saúde!
Não, o corpo definitivamente não interessa!
Quero mesmo a alma!

Deixe-me ver a danada...
Fluminense, Macumbeiro, Comunista?
Essa sua alma mais parece uma colcha de retalhos!
Vai me dar um trabalhão!
Ainda por cima com esse cheiro desagradável de Jasmim do Cabo!
Bofé!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ivan's Blue

Em um velho HD, enfiado num armário - acho que como um livro ou diário que não se joga fora - achei uma série de poesias e contos e textos.
Um deles, escrito há muito, muito tempo - logo depois que assisti meu primo Ivan no espaço em cima do antigo bar Nicteroi (não me lembro o nome) e que foi a primeira vez que o vi como cantor e guitarrista.

 
Ivan's Blues
JPVeiga

Quando ele nasceu,
Que eu me lembre,
E pouco me lembro mesmo,
Nada significou pra mim.

A política sufocava minha razão
O álcool embotava minha mente
E as drogas apertavam meu coração

Quando ele foi crescendo,
Que eu me lembre,
E pouco me lembro mesmo,
Nada significou pra mim.

Os filhos embotavam meu coração,
O dinheiro sufocava minha mente
E o sexo apertava minha razão.

Quando me dei conta dele
Ele já era da minha altura
Era um homem, inteiro e total
Enquanto eu era partido em pedaços

Fui assistir seu show,
Esperando ouvir um nada
Esperando apenas,
Deixar o tempo passar

Qual!

Seus dedos sufocavam a guitarra
Sua voz apertava as gargantas
E sua presença embotava os demais

E assim, ele nasceu para mim
Nasceu e cresceu ao mesmo tempo
Tudo na velocidade de seus dedos
Tudo na rouquidão de sua voz

Hoje, que eu me lembre,
E pouco me lembro mesmo,
Ele significou pra mim
Tudo o que sempre foi
Sem ter sido dito
Tudo o que é
Sem se ver ou saber

Tudo
Tudo
Ou nada.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Completeza

                                      JPVeiga


Não busco acertar
Não busco errar
Apenas tento viver
No meio da violência
Na esquina da fadiga
Da rua da miséria

Ah, como eu queria ser
Da matéria do meu nome
Pedro, da Pedra
Pedra de Pedro
Para não julgar
Para não ser julgado
E sobreviver
Completamente
Terceirizado

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

...e minha Tia inventou o Desfile de Carnaval!

Escrito há um tempo atrás, hoje me peguei lembrando dela, aí, resolvi colocar aqui...




Estou chegando do cemitério onde fui deixar para descansar minha Tia querida e, uma vez que ela não está mais aqui, resolvi abrir a caixinha de mistério que ela me fez guardar, revelando o maior de todos, trancado a sete chaves, um pedaço de serpentina rosa e uns confetinhos desbotados!

Do alto dos seus 100 anos, minha Tia sempre teve uma vida regrada e absolutamente séria dentro dos mais tradicionais padrões mineiros de conduta.
Solteiríssima, passou grande parte da vida costurando paramentos para os padres da paróquia de Botafogo, aqui no Rio; pintando porcelana e distribuindo alegria, amizade e benesses entre seus inúmeros sobrinhos, afilhados e parentes, distantes ou não.

Por conta da pintura, desde cedo ela viu em mim alguém com quem trocar idéias, falar sobre pincéis e tintas, técnicas e proporções. Foi minha mestra em quase tudo referente às artes; foi minha admiradora e fornecedora, de materiais e sugestões. Com a mão firme, me ensinando, mostrando e analisando, preparou meu caminho para as artes, a despeito das críticas de meu pai (vai ser engenheiro, meu filho!), me incutiu o respeito aos grandes mestres, abriu as portas para a liberdade de criação sem o medo do “que os outros vão dizer”, e, principalmente me deu a coragem de encarar a tela/papel em branco.

Pois foi que então, já sem ela, posso enfim contar a todos o tal segredo, que uma vez ela me contou com sua voz miúda, como quem confia seus pecados a um padre no confessionário:

O ano era 1907, início do século passado, meu avô, pai dela, era o secretário do sogro - meu bisavô - então Presidente da República, o quinto presidente de um país recém saído de um império turbulento, numa sociedade machista, cheia de não me toques quanto à mudanças. As mulheres, os pobres e os analfabetos não votavam; tanto que meu bisavô foi eleito com pouco mais de 200 mil votos! Minha Tia, então com quase um ano de vida, ia no carro presidencial com sua mãe, irmãos e tias. Estavam todos indo para um prédio na Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), de onde iam apreciar os blocos e a brincadeira de um carnaval ainda ingênuo.
O motorista corria a fabulosos 25 Km/h quando minha Tia pôs-se a chorar ensurdecendo a todos. O carro parou e minha avó decidiu que era melhor voltar para levar a criança para casa. Meia volta e minha Tia começou a sorrir, gargalhar. O carro deu mais um giro e voltou ao seu percurso inicial. O choro começou de novo, mais uma volta, mais sorrisos, outra virada e as pessoas dentro do carro começaram a cantar, transformando aquilo numa brincadeira.
Lá pela 5ª vez que se virava, um carro que passava começou a fazer a mesma coisa e mais um e outro mais, até que a avenida ficou tomada de carros sem capota indo para cima e para baixo, uns atrás dos outros, com as pessoas cantando, dançando, alegres e felizes, atirando serpentinas e confetes, limões-de-cheiro e farinha.
Estava criado o corso! que virou desfile e virou o desfile de Escolas de Samba de hoje em dia.
Tudo por culpa dela!
Isso, contado pela minha doce Tia, com um sorriso maroto e a bochecha ruborizada, era seu maior segredo!
Evoé Momo!

Eramos Um

Minha foto
Quem somos nós? Somos 3 em 1!!! JPVeiga - Variz da Meiga e Mariz Conzê - Vou contar sobre um deles: JPVeiga Peixes, Serpente no Horoscopo Chinês, filho de Oxum, aprendeu a ler já velho, com 7 anos, o pai queria tanto que ele fosse engenheiro, quase foi arquiteto, é Diretor de Arte, Ilustrador e Pintor, escreve para crianças desde sempre. Tem 3 filhos e uma neta, é casado e não pretende mudar essa condição. Mora como os sapos - na Lagoa.