Acorda!
JPVeigaQue foi?
Os macacos estão chegando!
É certo?
O sentinela fez o pio, já estão perto do arvoredo!
Entonce vamos!
Calçou as sandálias de couro, amarrou na cintura o cinto cheio de balas com o pequeno 32 cromado, enfiou no cinto as peixeiras de cabo colorido e passou por cima do ombro o embornal cheio de flores bordadas. Sorriu metendo a mão dentro do bornal já vestido. Encontrou o pacotinho embrulhado em papel de arroz e sopesou o danado. Sorriu de novo.
O repetição olhava ele.
Os macacos, justo agora...
O desmonte do acampamento foi rápido, os jegues receberam os mantimentos no lombo e todos picaram fora dali.
Andando rápido, passando por cima de pedaços de pedra e espinhos, eles fugiam rindo e falando alto, nem parecia que suas vidas corriam junto. Um rio na frente fez a turma parar, o sentinela avançado correu pra checar o vau. Todos se abaixaram na pequena clareira e começaram a sussurrar. Foi a hora que ele encontrou pra falar:
Ói, tenho um regalinho procê. Se arrepare não, é coiso de passagem, foi só num tempinho que tive passando lá por assarézinho, que se lembrei de sunçê; bem, aí fui na venda, bem, aí, sunçê abri que sunçê vai vê.
Ela recebeu o pacotinho todo amarrotado e com a fita grená meio torta. Uma pontinha de lágrima correu marcando o caminho poeira abaixo até a gola da camisa.
Carecia não, era bobagi minha, carecia tomá trabalho não!
A fitinha começou a se soltar quando a matraca começou.
A repetição saiu do couro e começou a papocar, todos pularam feito bicho e foi tiro pra todo lado, era grito, era fumaça, era engasgo, era estampido, era sangue e era cheiro de morte. Os macacos avançaram. Tavam em maior número mas a briga tava parelha. E as balas batiam aqui e ali rebentando pedra e gente. A fumaça começou a tampar a vista. A matraca foi calando e uns jeguinhos se soltaram ganhando o mundo. O cheiro de pólvora entrava pelas narinas e abrandava a catinga de sangue.
Um oficial gritou pra milícia parar de atirar. Um batedor correu e começou a desvirar os homens mortos.
Com a mão no canto da boca o batedor avisou: tá aqui! O ômi tá aqui! Pegamos os miserávi!
Todos se juntaram ao redor do corpo caído, falavam alto, batiam nas costas uns dos outros e sacudiam os repetições.
O batedor puxou um punhal da bainha quando alguém chamou atenção: ói um pacotinho aqui do lado dela!
Rodando de mão em mão o pacote foi parar no oficial, que terminou de desembrulhar com violência e depois de ver o conteúdo jogou tudo por sobre o ombro cuspindo palavras por entre dentes: vai, puta, vai que agora você já tem ané por mode casá com esse cabra ruim lá nos quintos do inferno!
E gritando pro batedor, ordenou pressa na cortação de cabeça enquanto o anel rolava e rolava e rolava, parecendo procurar o dedo da dona.
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