Poucas coisas sei
Muito poucas
E das poucas coisas que sei
Poucas são verdades
E dentre essas poucas coisas
Em uma eu acredito
Assim, vou dividir com vocês
A única certeza
Que tenho:
Vivemos num aquário
Sim, somos todos
Peixinhos de aquário
Nada do que fazemos
É verdadeiramente
Verdade
O brilho do diamante
O gás da água mineral
O chapéu pontudo do cardeal
O carro que corre na rua
O homem que pisou na lua
O corte na carne crua
O pastel de carne da feira
O anel no dedo da freira
A estrela no meio da bandeira
A cruz que muitos fazem de carreira
Tudo isso e mais a luz que poucos enxergam
Nada é de fato um fato
Nada é de verdade
Nada é nada
Nada
Tudo é uma ilusão
Como decoração
De fundo do mar
Em um aquário barato
Nadamos em volta
De algas e bolhas
Comemos manás
Plantados e matados
E a nós enviados
Como se tivéssemos feito
Trabalhamos em empregos
Que não levam a nada
Escrevemos livros que se apagam
Fazemos filhos que nos são entregues
Por algo ou alguém
Que os fabrica e nos dá
Como quem entrega
Um peixinho num saco plástico
Somos, sem ser
Existimos sem saber
Sabemos sem crer
Acreditamos sem poder
Então,
Um dia,
O dono do aquário
Vai cansar de nós
Vai achar que o vidro está sujo
Ou vai ter que fazer uma longa viagem
Ou simplesmente vai esquecer de nós
E aí
Aí...
Aí, vamos nos debater no tapete sujo
Como peixes fora da água
Jogados, derrubados no chão
Pulando e abrindo a boca
A procura de um ar que não virá
Esperando que o dono
Enfim,
Tenha piedade de nós
Amém
3 comentários:
que beleza de blog...
Ontem esta a procurar ... de que?...sei lá! e de repente ... me vem JPVeiga e a clareza dele acende minha noite.... valeu amigo!!!!
JP (ou Variz? ou Mariz?),
Será que o aquário tem pra nós ao menos uns frilas como limpa-vidro? Se é que ainda temos pulmões e estômago para sugar tanta sujeira.
Abração
P.S.: A palavra de verificação aqui foi "catem"...
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