Eramos um

Poesia, Escritos, Contos e Mentiras de um cara que pensa que é três!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

...e minha Tia inventou o Desfile de Carnaval!

Escrito há um tempo atrás, hoje me peguei lembrando dela, aí, resolvi colocar aqui...




Estou chegando do cemitério onde fui deixar para descansar minha Tia querida e, uma vez que ela não está mais aqui, resolvi abrir a caixinha de mistério que ela me fez guardar, revelando o maior de todos, trancado a sete chaves, um pedaço de serpentina rosa e uns confetinhos desbotados!

Do alto dos seus 100 anos, minha Tia sempre teve uma vida regrada e absolutamente séria dentro dos mais tradicionais padrões mineiros de conduta.
Solteiríssima, passou grande parte da vida costurando paramentos para os padres da paróquia de Botafogo, aqui no Rio; pintando porcelana e distribuindo alegria, amizade e benesses entre seus inúmeros sobrinhos, afilhados e parentes, distantes ou não.

Por conta da pintura, desde cedo ela viu em mim alguém com quem trocar idéias, falar sobre pincéis e tintas, técnicas e proporções. Foi minha mestra em quase tudo referente às artes; foi minha admiradora e fornecedora, de materiais e sugestões. Com a mão firme, me ensinando, mostrando e analisando, preparou meu caminho para as artes, a despeito das críticas de meu pai (vai ser engenheiro, meu filho!), me incutiu o respeito aos grandes mestres, abriu as portas para a liberdade de criação sem o medo do “que os outros vão dizer”, e, principalmente me deu a coragem de encarar a tela/papel em branco.

Pois foi que então, já sem ela, posso enfim contar a todos o tal segredo, que uma vez ela me contou com sua voz miúda, como quem confia seus pecados a um padre no confessionário:

O ano era 1907, início do século passado, meu avô, pai dela, era o secretário do sogro - meu bisavô - então Presidente da República, o quinto presidente de um país recém saído de um império turbulento, numa sociedade machista, cheia de não me toques quanto à mudanças. As mulheres, os pobres e os analfabetos não votavam; tanto que meu bisavô foi eleito com pouco mais de 200 mil votos! Minha Tia, então com quase um ano de vida, ia no carro presidencial com sua mãe, irmãos e tias. Estavam todos indo para um prédio na Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), de onde iam apreciar os blocos e a brincadeira de um carnaval ainda ingênuo.
O motorista corria a fabulosos 25 Km/h quando minha Tia pôs-se a chorar ensurdecendo a todos. O carro parou e minha avó decidiu que era melhor voltar para levar a criança para casa. Meia volta e minha Tia começou a sorrir, gargalhar. O carro deu mais um giro e voltou ao seu percurso inicial. O choro começou de novo, mais uma volta, mais sorrisos, outra virada e as pessoas dentro do carro começaram a cantar, transformando aquilo numa brincadeira.
Lá pela 5ª vez que se virava, um carro que passava começou a fazer a mesma coisa e mais um e outro mais, até que a avenida ficou tomada de carros sem capota indo para cima e para baixo, uns atrás dos outros, com as pessoas cantando, dançando, alegres e felizes, atirando serpentinas e confetes, limões-de-cheiro e farinha.
Estava criado o corso! que virou desfile e virou o desfile de Escolas de Samba de hoje em dia.
Tudo por culpa dela!
Isso, contado pela minha doce Tia, com um sorriso maroto e a bochecha ruborizada, era seu maior segredo!
Evoé Momo!

2 comentários:

Anga Mazle disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anga Mazle disse...

Que história, amoreco!
Pode ser até tudo mentira mas, se for, tudo bem, porque é uma mentira por e com amor, muito amor!

Bjs

P.S.: Perdoe a exclusão do comentário anterior. É que o fiz sob grande excitação e errei a mão. Aí me lembrei que você é casado...

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Quem somos nós? Somos 3 em 1!!! JPVeiga - Variz da Meiga e Mariz Conzê - Vou contar sobre um deles: JPVeiga Peixes, Serpente no Horoscopo Chinês, filho de Oxum, aprendeu a ler já velho, com 7 anos, o pai queria tanto que ele fosse engenheiro, quase foi arquiteto, é Diretor de Arte, Ilustrador e Pintor, escreve para crianças desde sempre. Tem 3 filhos e uma neta, é casado e não pretende mudar essa condição. Mora como os sapos - na Lagoa.