Eramos um

Poesia, Escritos, Contos e Mentiras de um cara que pensa que é três!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Singular

Singular

Variz da Meiga

 

Ela entrou correndo fugindo da chuva.

Puxava pela mão um menino encharcado.

Não parecia que iria haver uma venda, mas...

 

Pois não!

Ar-condicionados - preciso de uns 3 ou 4!

Ah sim, ares-condicionados, claro.

Foi o que falei, quero bons preços e ótimas condições!

Todos iguais?

Claro!

Ah sim, então é bom preço e ótimas condições!

Foi o que eu disse!!! O sr. Vai me mostrar ou vai ficar aí repetindo tudo o que falo, hein? Falou e virando-se para a criança soltou o verbo:

E você não faça bagunça, fique quieto e não mexa nos guardas-chuvas!

Guarda-chuvas! Gritou o vendedor lá do outro lado da loja.

 

A mulher rodou a loja inteira, colocou defeito em tudo, falou mal das marcas, contou experiências ruins de suas amigas e reclamou dos preços, enquanto o vendedor sorria e demonstrava os produtos.

 

Pouquinha quantidade né? Desdenhou.

Como? Já lhe mostrei uma dúzia de marcas diferentes! Saiba a senhora que ares-condicionados é no Paraíso dos Móveis!

São!

É!

É!, É!, E esse slogan é usado há mais de 30 anos! Desculpe-me o anglicismo.

São! e não me interessa nem um pouco a sua religião, anglicismo, protestantismo, catolicismo. Quero os ar-condicionados e pronto!

Ares! Ares! E não vendo mais nada!

Quero falar com o dono! Gritou furiosa a mulher.

O dono sou eu! E não vendo, tenho dito! Não vendo e pronto!

Mal educado, estúpido, imbecil, podem ir o senhor e a sua loja pras putas que os pariram! A mulher falou e deu uma rodada. Puxou o filho e foi saindo.

 

Já na porta se voltou e ouviu o homem falar:

 

Muito interessante este plural, muito, volte aqui senhora, volte que eu vou lhe fazer um ótimo desconto!

 

domingo, 9 de novembro de 2008


A canção do Bobo

Variz da Meiga

 

Porque ficas a rir

E a rir e a rir,

Pobre bobo da corte?

 

Rio, meu senhor

Porquê é de riso

E de amor

Meu viver sem siso

 

Mas por que esta lágrima escorre no rosto

Enquanto pulas, saltimbanco triste?

 

Ela escorre

Para sair

Se não, ela morre,

Antes de cair

 

Não brinques comigo bobo.

Conte-me a razão

De ficares a chorar e de ficares a sorrir

 

Sorrio para a minha senhora

Porque vivo pensando que ela me adora

Choro por ela que tanto sorri

Porque na verdade, ela diz que eu morri

 

Ora Bobo, que bobagem sem nome

Ficar a chorar e a fazer momices

Isso é mais coisa doida de doido

 

Pois é, meu senhor

Sei que isso parece tão oco

Mas são coisas do amor

Pois sou bobo mas não sou louco

 

Sorrio, pois sorrir é meu fim

Sou bobo cheio de amor

Pulando feito Arlequim

Sou bobo cheio de dor

 

Eu entendo, amigo bobo

Entendo mas não compreendo

Alguém viver triste e alegre

 

Eu lhe explico, meu amigo

Eu por fora estou contente

Pois no sofrer achei abrigo

 

Mas por dentro sou tristeza

Por ter perdido o amor

Que tinha, junto com rara beleza

 

Foi então que decidi assim

Viver e sofrer nesse tormento

Como se a vida atrás de mim

Fosse apenas um momento

 

Se soubesse, eu, triste truão

Que minha amada está contente

Sem meu amor e minha mão

Sem que eu esteja em sua mente

 

Eu então muito pularia

A gritar feito um jogral

E minha lágrima secaria

Mesmo eu me sentindo mal

 

O que então fizestes

Para perder tão grande amor

bobo tão bobo

 

Pois é meu senhor, eu não sei

Eu sei apenas que não lhe dei

O que talvez ela quisesse

E que eu não lhe soubesse

 

É que no coração de uma mulher

Um farsista não mete a colher

E num mundo de carneiro e lobo

Não tem mesmo lugar para bobo.

 

 

 

sábado, 25 de outubro de 2008


De novo

JPVeiga


Quando eu nascer de novo quero ser uma Efemérida.

Para mudar a relatividade do meu tempo - viver apenas um dia e neste dia ser bebê, criança, adolescente, adulto, idoso e numa conclusão total, morrer.

Cumprir minha vida em 24 horas, ser o que fui com a consciência plena de tudo que eu fizer terei guardado na lembrança, viver na instantaneidade, ser um ser de tempo real e simultaneamente poder usufruir da vida e da morte. Um começo com a certeza de final, sabido e cronometrado.

Uma vida plena, cheia e completa, num ciclo pequeno para alguns e de quase uma eternidade para outros.

Viver como quem, ao saber que seu tempo rapidamente se escoa, trata cada segundo como uma pérola, como uma dádiva de Deus, como o que ele realmente é: um momento mágico!

Nascer, crescer, conhecer seu amor, procriar e gloriosamente, morrer junto.

 

Agora, se não der, e eu puder escolher outro, quero nascer Cavalo-Marinho!, para poder nascer macho, crescer fêmea carregando meus filhos na barriga e parir!

 

E se de todo eu não conseguir nenhum dos dois, quero voltar de novo eu mesmo - para poder fazer uma nova vida conhecida e poder errar onde eu quiser, acertando ao meu bel prazer, comandando uma vida já vivida, aproveitando cada momento como se, o desconhecido fosse o já amigo, sabido e principalmente amado fim.


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sax Appeal


Sax Appeal
JPVeiga

O cara tocava um saxizinho chatinho à beça, mas a menina não tirava os olhos dele. Pombas!

Ela tinha vindo comigo, caramba, tava rolando a maior paquera, ela tinha topado sair de novo, outro dia, um cineminha talvez, sei , um motel!!!  Na praia o papo foi ótimo, ela disse que adorava uma boate, e com música então... eu podia jurar que a coisa iria esquentar, ia rolar a maior, vem esse cara, tocando essa musiquinha de merda, essa coisinha que fica se repetindo e a gatinha , toda derretida pelo cara. E olha que ele nem é essa maravilha toda, aliás, com aquele cabelinho cheio de gomalina eu acho até que ele, sei ! E baixinho, acho que nem tem um metro e meio!

 

-         Sabe, eu também toco instrumentos, na minha família somos praticamente músicos! Falei, gritando no ouvido dela.

-         É...

-         Claro, por exemplo, minha mãe tocava tuba na banda de Ipanema...

-         Tuba...

-         É, tuba, muito difícil de tocar, instrumento de responsabilidade, e ela tocava de ouvido.

-         Ouvido...

-         Presta atenção, pombas!

-         Tá, espera acabar essa música, é ótima...

-         ...

-         Vai, fala da sua mãe.

-         Pois é, ela toca tuba, e cuíca.

-         É mesmo?

-         É, cuíca ela aprendeu com um professor, tuba foi de ouvido. E cuíca é o seguinte... é chegar em casa e começar um som ela corre e pega a cuíca, rola a maior...

-         Péra , essa música também é das boas...

E a coisa seguiu adiante, o chatinho tocando e a menina babando. E eu ali do lado tentando chamar a atenção da danada. Pedi mais um cuba-libre, mastiguei uns amendoins e fiquei ostensivamente de costas pro cara.

O baterista começou uma virada cheia de floreios e de ensurdecer santo, e então, eu aproveitei para iniciar de novo o papo:

-         pois é, meu irmão Marcello toca violão, cavaquinho e sanfona, quando nos reunimos é a maior bagunça, todos tocando...

-         psiu!

-         Ei, chega disso um pouco...

-         legal, essa música eu até não gosto muito, vai, diz !

-         Pois é, meu irmão Jorge que não toca, mas é musical pacas! eu toco tumba, bongô, atabaques e o Antônio sopra uma gaitinha e até mesmo toca um sax tenor.

-         Sax?

-         É!, sax, por quê?

-         Eu queria muito conhecê-lo!

-         Por quê? Por quê ele toca sax?, por isso? Ele toca muito mal, na verdade enche o saco da gente, é desafinado e tal e coisa.

-         E o sax, é daqueles grandões brilhantes? Maior do que o desse cara?

-         E você tá querendo o quê com o tamanho do sax do meu irmão?, pombas! Tamanho do instrumento não é documento, sax tenor, barítono, soprano, baixo, é tudo uma merda, é tudo uma porcaria, sopra-se de um lado e sai uma bostinha de som do outro e sabe do que mais? Vou membora! Fique você com o sax e com o dono dele que eu não tenho mais saco procês!

-         ...

Levantei e fui saindo, pedindo licença aqui e ali, encostei no balcão, dei adeus ao sonho de motel, pedi a conta, paguei e de longe abrindo a porta me virei para ver o que estava acontecendo. estava ela babando e o cara tocando a tal de "I've got you under my skin" se sacudindo como uma perfeita idiota, parecia a Beth Carvalho cantando "Andança" - ridículo...

Bati a porta da boate, dei um b'noite pro leão de chácara e, saindo pelo meio do pessoal que ia entrando, percebi que começava a assobiar!

Era a danada da música que voltava na minha cabeça.

Eu pulei e comecei a gritar uns impropérios dando chutes no ar.

-         Foi doutor, foi que o camburão da polícia parou e o guarda pediu meus documentos.

-         E precisava, meu filho?, precisava mandar o guarda enfiar o sax no rabo?, ali, na frente de todos?


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O HOMEM

O Homem

Variz da Meiga

Estranhos e incompreensíveis

São os caminhos que levam ao Senhor!

A mim?

Perguntou o fiel se levantando.

Caminhos que levam até o Senhor,

Repetiu o pastor.

Ao Senhor!

Pois então, a mim?

Ora, eu vim até aqui em busca de paz,

Em busca de tranquilidade, anonimato,

E o que encontro?

Um pastor incitando o povo a me encontrar!

Já sei, me reconheceram,

Viram dentro desta casca que me esconde,

A estrela que sou!

Fui descoberto!

Senhor, perguntou o pastor,

Quem és tu, que trazes dentro de si toda esta empáfia?

Eu, respondeu o homem,

Sou aquele que não sabia ser,

Sou aquele que fui sem ter sido,

Sou aquele que poderia ter e ser,

E não sei se tive ou se fui!

Eu sou o homem comum,

Aquele que vive a vida,

Desde que o homem é homem.

Aquele que não sabia ser,

E no entanto é!

A maior criação

Deste senhor que o senhor diz

Ser o Senhor.

E na verdade é apenas

O início,

O fim,

E os meios. 


terça-feira, 26 de agosto de 2008

DECIFRA-ME OU...


DECIFRA-ME OU...
Variz da Meiga

Ó ilustre passante,
Detenha-se um pouco à minha sombra.
Pronunciou o enorme prédio de vidros de cristal
Ao homem de terno,
Que fugindo da canícula
Parara defronte.

Chegue mais perto,
Isso, encoste em minhas marmóreas paredes.

O homem, do alto de sua florida gravata importada
Sorriu.
Não se lhe assustava um prédio falante.
Ah! a modernidade, pensou.
O celular abriu e a conversa começou,
Quando...

Diga-me ó passante:
O que é, o que é, que de manhã quer excelência,
A tarde quer potência,
E a noite simples existência?
Questionou o bloco de concreto, vidro e aço.
Tampando o bocal do telefone,
O homem com voz chateada respondeu:
De novo?...

É o homem,
Que no alvorecer de sua vida
Só pensa no tamanho de seu sexo,
Ao entardecer,
Valoriza sua rigidez e desempenho,
E ao anoitecer,
Bem, ao anoitecer quer apenas ter a certeza de que seu sexo está no lugar:
No cérebro!

Certo?
Agora me deixa em paz e vai chatear outro!

E voltando à conversa, declarou:
Desculpe o corte,
São estas esfinges idiotas que ficam por aí disfarçadas,
Variando a velha pergunta que sempre tem a mesma resposta!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

FIM


FIM
Variz da Meiga

Se Deus me desse mais uns dez minutinhos de vida,
Eu iria molhar um gramado.

Andando junto com as pessoas queridas,
Iria olhar a água entrando na terra seca,
Sentir as folhinhas de grama crescendo,
Pisar descalço a terra encharcada
E cheirar os cheiros de vida nova brotando.

Agora, se fossem apenas cinco
Os minutos de vida a mais,
Iria deitar no colo da minha mulher
E pedir a um amigo chegado,
Ir lá fora,
Lá no gramado,
E regar.
Fazendo um arco-íris com a água espalhada
E me enviar pela janela
As cores, os barulhos, os cheiros.

Mas se nem um minuto de vida eu tiver,
Vou correr até meu grande e florido jasmim-do-cabo
E vou abraçá-lo apertado.
Até,
Numa camisa-de-força,
Me levarem daqui.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O Beija-flor e a Bromélia



O Beija-flor e a Bromélia
Variz da Meiga

Então eu me abri.
Me espremi toda.
Pari a mais linda flor,
Carnuda, alta, colorida,
Cheia do mais forte e doce perfume.
Só para você,
Só.
Só.

Aí, te chamei.

Não com palavras,
Nem com acenos.
Te chamei com meu néctar
Vem,
Vem me sugar,
Me completar o ciclo
Me levar meu sumo,
Fecundar meu colo,
Espalhar meu gene
Vem.

Então eu te vi.
Colorida e linda,
Alta e cheirosa.
Flor macho e fêmea,
Desabrochada,
Oferecida,
Guardada,
Só minha.
Te revoei;
Te mostrei, indo e vindo
Meu mais lindo vôo,
E num momento mágico
Parei no ar, só para você.

Assim do nada,
No meio de um volteio,
Te entrei.
Te lambi loucamente,
Te sorvi,
Te sacudi freneticamente,
E te esvaziei.

Cansado, exausto,
Pousei em tua folha espinhosa.
Certo de que, ali,
Naquele instante,
Eras minha,
E eu só teu.
Unidos pela natureza
Do amor.
Da Natureza.

Então você voou.
E mais uma vez não me viu.
Ali no fundo,
Pequeno,
Escondido na folha,
No meio de uma poça
De água de chuva.
Cheio de verrugas,
Gosmento,
Insignificante.
Com os dedos grudentos
E o coração na mão.
Eu,
Sapo verde,
Cheio de um amor maluco,
Improvável e impossível.
Por um Beija-flor tão lindo.

E a cada florada,
Mais apaixonado
E mais perto
Do fim.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Oral Sex



ORAL Sex
Variz da Meiga

Converso e falo
Falo e converso
Com versos falo
Converso com falo
Falo com versos
Versos e falos
Fá-lo com versos
Gozei!

Sexo, Verbo Transitivo



SEXO, VERBO TRANSITIVO
Variz da Meiga

Eu falo
Tu clítoris
Ele/a hermafrodita
Nós androceus
Vós gineceus
Eles/as androginam

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Amor Moderno



Amor Moderno
Variz da Meiga


Quero te amar numa bicama moderna
Que sua mãe cisma em chamar de sofá
Quero te amar mesmo que sobre uma mola
Qualquer coisa, menos te amar em pé

Quero te amar numa bicama moderna
Que sacuda e balance, balance assim
Para lembrar de quando eu era criança
E brincava, sozinho, te amando na mão

Quero te amar numa bicama moderna
E arrancar um pedaço de ti
Para nele filtrar toda essa coalhada
Esse leite azedo vermelho carmim

Fazer sumir com toda essa tristeza
De te ter e no fundo não ter
Esperando melhores momentos
De você e eu perdidos no meio de nós

Quero te amar numa bicama moderna
Onde o lençol será nossa mortalha
O travesseiro nosso ninho de dor
E sua mãe nossa juiza de paz

Anunciando a quem quiser ouvir
Que hoje, bem aqui nesta quase cama
Nesta linda e louca bicama moderna
Seu amor vai me despetalar

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Eu e o Rock



Eu e o Rock
Mariz Conzê

Eu me lembro quando o Rock era uma criança.
As memórias são um pouco confusas, mas eu estava lá.
Não, eu não andava muito com ele; eu saia mais com a Bossa Nova e desde sempre com os Clássicos. Aliás, meus pais viviam me dizendo: ande com alguém da sua idade, menino!... mas eu gostava muito deles, grandes companheiros. As vezes me encontrava com a Valsa ou o Bolero numa festa de 15 anos. Mas era a festa esquentar, a cuba-libre evaporar, que o Rock chegava. Acho até, que sempre que ele entrava nas festas eu já estava meio chumbado, daí não me lembrar muito. Mas, no dia seguinte, sempre, sempre, eu saía com os Clássicos, como que a me redimir de algo errado que teria feito e que não me lembrava com clareza.
Do Samba, velho amigo, me lembro bem. Pudera, ele estava em todas. Por vezes, numa reunião assim mais metida a besta, a coisa ia rolando e sem que alguém se tocasse, o Samba chegava. Bem que uma minoria tentava ligar pra chamar o Rock, ele não ia. Acho que ele sempre foi meio assim, rebelde, sei lá, meio cabeça dura. O Samba, não! Tava ali, amigo, ajudando, crescendo com a gente, brincando num fundo de quintal, numa roda de amigos depois da praia ou até mesmo numa banda de carnaval. Sempre nesses ambientes descontraídos e cheios de amizade. Coisa que o Rock nunca teve. Nunca! Que amizade poderia-se ter com o Rock? Ele vinha e partia quando queria, sem pouso certo, não podíamos levá-lo para casa! As vezes ele bancava o gringo e aí ninguém entendia o que ele falava! Mas vocês não vão acreditar: mesmo sem entender, a moçada ia nas águas dele.
Me lembro direitinho da briga que o Rock teve com o Iê-iê-iê. O pau comeu solto, o Rock deu a maior surra no coitado e não sei se por isso eu nunca mais prestei atenção no tal Iê-iê-iê. Acho que ele se mudou, sei lá. Enquanto o Rock, cada vez mais com fama de mau, ia assustando nossos pais.
Que bobagem, ele não era nada disso e eu diversas vezes pude verificar que ele não era assim tão marginal.
Pois é, e a minha vida continuou, amigo também do Chá-chá-chá, da Rumba, das gostosas irmãs Salsa, que, muito amigas de um tio meu, saiam azucrinando pela noite com um tal de Tango. Ah, me lembro também quando me disseram que o Rock estava metido com as Drogas. Caramba, eu protestei, discuti, briguei, só parei quando me perguntaram se eu botava a mão no fogo por ele! Pombas! Eu não boto nem por mim! Mas sigo dizendo: o Rock não tinha nada a ver com esse pessoal, tanto que quando andei com as Drogas o Rock não estava lá! Os Clássicos estavam e nunca ninguém criou a pecha!
E depois enfiaram guela a baixo do pessoal essa coisa do Rock ser alienado. Foi ali por volta dos anos 70. Disseram até que ele estava numas de amor livre e tal e coisa, e que de política não queria nem saber, enfim, fizeram a caveira do cara. Mentira! Ele foi contra as guerras, contra isso e aquilo, foi, até chegar o tal de Rap. Eu, nunca fui muito com a cara desse Rap. Vivia dizendo que era parente distante do Rock, assim como o Heavy. Não ficou provado, não colou!, da mesma maneira que os filhos ilegítimos que as meninas diziam ter do Rock. Filhos do Rock? Qual o quê! Ele não podia estar em toda parte, não dava tempo.
Lembrei de outra boa: era uma noite quente, na praia de Ipanema, nas dunas da Gal - estavam fazendo o Emissário Submarino - o "lança cocô" - tava uma turma enorme, o Reggae, a Tropicália, o Sambão, tava até o Bibop - que conheci nos States, quem me apresentou foi um amigo comum o Jazz - pois bem, noite fechada, eu cheguei com meu colega Blues, tristonho, cabisbaixo, cheio de dor de cotovelo, pois foi só o Blues se encontrar com o Rock que a coisa pegou fogo. Ficamos lá até o nascer do sol. Foi lindo!
Mas eu não estou aqui pra ficar falando destas coisas, até porque eu nem me lembrar direito delas me lembro - tô aqui pra falar do Rock e minha amizade com ele.
Mas de verdade, sempre que eu me encontrava com ele eu não estava lá bem das pernas. Tento me lembrar e não consigo muito sucesso. Sei que ele vinha junto com outras coisas, muitas mulheres, muita doideira, acho que é por isso que a minha memória anda faltando. Mas, acho que já falei demais, vou parando por aqui, hoje de tarde vou me encontrar com os velhos amigos Clássicos, que no final das contas foram os únicos que seguraram a minha onda. Meu pai segue dizendo aquela história de: lá vai você andando com esses velhos! E eu sigo andando com eles!
Mas, quando vocês encontrarem o Rock por aí, digam pra ele que tenho saudades, sim, saudades do tempo em que éramos jovens, irresponsáveis, doidos, bobos e com a cabeça cheia de sonhos. Digam a ele que eu aqui ainda estou vivo, que tenho ouvido falar nele e que tenho até gostado de uma ou outra coisa que ele anda fazendo. Aproveitem e digam também que ele anda muito barulhento!

5INCO -


5INCO
Variz da Meiga

A mulher chorava com um só olho
Seus Cabelos vermelhos se misturavam
Com a areia que muitos sóis queimavam
Na praça-de-touro que não existia
Do touro velho que não mais podia
Do sangue seco que era apenas molho

E no sol terrível que hoje arde

Um homem cego e mudo blasfema
Contra o olho seco fora do esquema
Contra um deus mau que não queria
Contra a tristeza que se insurgia
Das malditas 5 horas da tarde

Nenhum poeta lá não estará
Não saberiam viver na podridão
Nem com o fel entrar em comunhão
Talvez fugissem com a lágrima que secava
Do olho triste que chorar teimava
Esperando a velha guerra que começará

Uma frase presa, sozinha se soltava
E fugia em prantos pela aberta boca torta
Da cabeça da velha mulher morta
Do touro louco e do seu longo grito
Iluminado pelo sol contrito
Da quinta hora que se acabava


A Crise dos 50, os novos casamentos e o sexo oral.

A Crise dos 50, os novos casamentos e o sexo oral.
JPVeiga

Gozou?
Gozou, meu bem?
Gozou, amorzinho? Fala logo! Pombas! Eu aqui me acabando e você incapaz de me dar uma simples resposta! Parece amor de surdo-mudo! Pombas! Gozou ou não gozou, caceta!
Calma Junior, gozei sim, é que...
Junior? Junior? Tá me chamando de Junior pra me gozar já que não gozou aí em baixo? Junior eu sou lá no escritório! Para você posso ser qualquer coisa, menos Junior! É broxante!
Tá bom, que tal Sênior! Você é mais velho que meu pai!
Gozadora... e eu aqui preocupado em fazer você gozar, gozar junto, falar aquelas coisas que os casais falam durante o amor, e você gozando e nem me dizendo! Tá bom... me deixou no maior esforço...
Ô amor, eu gozei duas vezes, foi muito bom, foi ótimo!, você é demais, te adoro! Foi bom demais!
Me adora mais não fala comigo durante o amor! Alias, não falamos muito hora nenhuma! É boate, bar, festas, é agito, badalação e mais um monte de besteiras com um pessoal que eu não tenho nada a ver!
Você gostava no início! Que foi? Cansou?
Nada não! De repente me senti velho, olhei para você e vi uma criança, sei lá, uma filha, me senti mal!
Sua filha é muito mais nova do que eu! E pára de me chamar de criança, eu tenho 22 anos e sou dona do meu nariz, estou com você porque quero! Porque te amo! Eu te escolhi, podia ficar com um montão de gente mais nova, até mesmo mais bonitos e mais cheios de vida, se estou com você é porque quero, e pare com isso! Chega!
Que bobagem querida, não fique assim não, vamos sair, vamos a um cinema, teatro, você escolhe, vai, não fica triste não, é que o dia foi cheio, muito trabalho, muita aporrinhação, meu filho vai repetir o ano, um cliente não pagou, coisas chatas, aí, cheguei em casa te vi toda linda e tudo passou, vem cá, vem, esquece essa história e me dá um beijo, vem, vem cá!
Tá bom, mas eu vou a uma festa daquelas “tecno”- daquelas mesmo que você detesta, mas eu tenho que ir! Vai estar lá aquele carinha daquela agência que te falei! O tal que está procurando um rosto novo pra uma campanha internacional! Eu tenho que ir! E vou logo avisando: vou com ou sem você!
Já que você colocou assim, eu fico, você vai, tudo bem!
Você não vai ficar chateado não?
Bobagem, vou aproveitar para ler, sei lá, escutar um CD de ópera, ligar pruns amigos, sei lá, talvez vá até o bar com o pessoal.
Ah, não! Eu vou sair porque preciso, não quero você por aí galinhando, o que vão pensar de mim? Fique em casa e pronto!
Tá bom..., eu fico, vou ler.
Vou tomar um banho e já já vou me vestir e sair. Beijinho!
Beijinho.
.
.
Alô.
Junior?
Ôi, sabia que você ia telefonar, hoje falei com o Junior2 e...
Já te falei um milhão de vezes para não chamar o garoto assim! Você sabe que não gosto, pare de brincadeiras e me ouça:..
Espere, se você quer conversar, vamos sair, vamos nos encontrar lá no bar?
Porque você está falando baixo? O que foi? Aquela sirigaita está por perto?
Não chame ela assim, ela é a minha mulher agora! Eu casei com ela igual casei com você! Pombas!
E por isso fica falando baixinho e me chamando pra sair?
Eu estava apenas sendo gentil! E você? Vai ou não vai sair pra conversar? Pelo telefone hoje eu não quero falar nada!
Não posso, vou ao Municipal ver Carmem e depois vou ao lançamento de um livro – noite de autógrafos.
Carmem, lançamento de livro!
Que foi? Está com saudades? Agora você só vive com esse pessoal da idade da sua filha. Você é que escolheu, lembra? Você saiu de casa, você é que foi atrás de sexo com essa piranhazinha. Você é que quis! Agora se vire, eu é que não posso ficar saindo com ex-marido metido a garotão. E tem mais, se você não quer falar eu mando o advogado ligar, babaca! Tchau!
Tá falando comigo, amor?
Não querida, tô falando com o meu passado!
Mal passado?
Não querida, passado, de onde eu acho que nunca deveria ter saído!
O que? Você vai sair?
Não amor, vou ficar!, agora não dá mais pra sair, pelo menos não enquanto eu não conseguir resolver essa de falar e fazer amor!
O quê? Com que cor o quê?
...

Eramos Um

Minha foto
Quem somos nós? Somos 3 em 1!!! JPVeiga - Variz da Meiga e Mariz Conzê - Vou contar sobre um deles: JPVeiga Peixes, Serpente no Horoscopo Chinês, filho de Oxum, aprendeu a ler já velho, com 7 anos, o pai queria tanto que ele fosse engenheiro, quase foi arquiteto, é Diretor de Arte, Ilustrador e Pintor, escreve para crianças desde sempre. Tem 3 filhos e uma neta, é casado e não pretende mudar essa condição. Mora como os sapos - na Lagoa.