ONTEM
Mariz Conzê
Sentado na pedra
do arpoador,
num fim de tarde qualquer,
eu quase consigo me ver
menino,
de sunga surrada,
vermelho grená,
com um canivetinho
amarrado no cordão
que me apertava a cintura;
um limão pequeno,
guardado
do lado da coxa
e mergulhando,
procurando mariscos
e ostras;
para,
vivos,
nadando no sumo do limão,
matar minha fome,
de um tempo muito lá atrás.
Eu menino, não tinha:
os filhos,
a neta,
os afilhados,
o doce sorriso dela,
os livros não lidos,
os não escritos,
os haicais,
as tintas,
os papéis,
a vista da Lagoa,
não tinha uns,
não tinha outros,
não tinha.
Mas eu era feliz,
era muito feliz,
mas não era
eu!
Eu, sou o que me cerca,
o que me completa,
o que me dá e toma,
o que existe sem pedir,
o que pede sem existir,
e a isso,
chamamos vida.
E quando essa vida
nos cerca totalmente,
chamamos amizade,
mas se essa vida
nos vive,
chamamos amor.
Mariz Conzê
Sentado na pedra
do arpoador,
num fim de tarde qualquer,
eu quase consigo me ver
menino,
de sunga surrada,
vermelho grená,
com um canivetinho
amarrado no cordão
que me apertava a cintura;
um limão pequeno,
guardado
do lado da coxa
e mergulhando,
procurando mariscos
e ostras;
para,
vivos,
nadando no sumo do limão,
matar minha fome,
de um tempo muito lá atrás.
Eu menino, não tinha:
os filhos,
a neta,
os afilhados,
o doce sorriso dela,
os livros não lidos,
os não escritos,
os haicais,
as tintas,
os papéis,
a vista da Lagoa,
não tinha uns,
não tinha outros,
não tinha.
Mas eu era feliz,
era muito feliz,
mas não era
eu!
Eu, sou o que me cerca,
o que me completa,
o que me dá e toma,
o que existe sem pedir,
o que pede sem existir,
e a isso,
chamamos vida.
E quando essa vida
nos cerca totalmente,
chamamos amizade,
mas se essa vida
nos vive,
chamamos amor.
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