Eramos um

Poesia, Escritos, Contos e Mentiras de um cara que pensa que é três!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Eu e o Rock



Eu e o Rock
Mariz Conzê

Eu me lembro quando o Rock era uma criança.
As memórias são um pouco confusas, mas eu estava lá.
Não, eu não andava muito com ele; eu saia mais com a Bossa Nova e desde sempre com os Clássicos. Aliás, meus pais viviam me dizendo: ande com alguém da sua idade, menino!... mas eu gostava muito deles, grandes companheiros. As vezes me encontrava com a Valsa ou o Bolero numa festa de 15 anos. Mas era a festa esquentar, a cuba-libre evaporar, que o Rock chegava. Acho até, que sempre que ele entrava nas festas eu já estava meio chumbado, daí não me lembrar muito. Mas, no dia seguinte, sempre, sempre, eu saía com os Clássicos, como que a me redimir de algo errado que teria feito e que não me lembrava com clareza.
Do Samba, velho amigo, me lembro bem. Pudera, ele estava em todas. Por vezes, numa reunião assim mais metida a besta, a coisa ia rolando e sem que alguém se tocasse, o Samba chegava. Bem que uma minoria tentava ligar pra chamar o Rock, ele não ia. Acho que ele sempre foi meio assim, rebelde, sei lá, meio cabeça dura. O Samba, não! Tava ali, amigo, ajudando, crescendo com a gente, brincando num fundo de quintal, numa roda de amigos depois da praia ou até mesmo numa banda de carnaval. Sempre nesses ambientes descontraídos e cheios de amizade. Coisa que o Rock nunca teve. Nunca! Que amizade poderia-se ter com o Rock? Ele vinha e partia quando queria, sem pouso certo, não podíamos levá-lo para casa! As vezes ele bancava o gringo e aí ninguém entendia o que ele falava! Mas vocês não vão acreditar: mesmo sem entender, a moçada ia nas águas dele.
Me lembro direitinho da briga que o Rock teve com o Iê-iê-iê. O pau comeu solto, o Rock deu a maior surra no coitado e não sei se por isso eu nunca mais prestei atenção no tal Iê-iê-iê. Acho que ele se mudou, sei lá. Enquanto o Rock, cada vez mais com fama de mau, ia assustando nossos pais.
Que bobagem, ele não era nada disso e eu diversas vezes pude verificar que ele não era assim tão marginal.
Pois é, e a minha vida continuou, amigo também do Chá-chá-chá, da Rumba, das gostosas irmãs Salsa, que, muito amigas de um tio meu, saiam azucrinando pela noite com um tal de Tango. Ah, me lembro também quando me disseram que o Rock estava metido com as Drogas. Caramba, eu protestei, discuti, briguei, só parei quando me perguntaram se eu botava a mão no fogo por ele! Pombas! Eu não boto nem por mim! Mas sigo dizendo: o Rock não tinha nada a ver com esse pessoal, tanto que quando andei com as Drogas o Rock não estava lá! Os Clássicos estavam e nunca ninguém criou a pecha!
E depois enfiaram guela a baixo do pessoal essa coisa do Rock ser alienado. Foi ali por volta dos anos 70. Disseram até que ele estava numas de amor livre e tal e coisa, e que de política não queria nem saber, enfim, fizeram a caveira do cara. Mentira! Ele foi contra as guerras, contra isso e aquilo, foi, até chegar o tal de Rap. Eu, nunca fui muito com a cara desse Rap. Vivia dizendo que era parente distante do Rock, assim como o Heavy. Não ficou provado, não colou!, da mesma maneira que os filhos ilegítimos que as meninas diziam ter do Rock. Filhos do Rock? Qual o quê! Ele não podia estar em toda parte, não dava tempo.
Lembrei de outra boa: era uma noite quente, na praia de Ipanema, nas dunas da Gal - estavam fazendo o Emissário Submarino - o "lança cocô" - tava uma turma enorme, o Reggae, a Tropicália, o Sambão, tava até o Bibop - que conheci nos States, quem me apresentou foi um amigo comum o Jazz - pois bem, noite fechada, eu cheguei com meu colega Blues, tristonho, cabisbaixo, cheio de dor de cotovelo, pois foi só o Blues se encontrar com o Rock que a coisa pegou fogo. Ficamos lá até o nascer do sol. Foi lindo!
Mas eu não estou aqui pra ficar falando destas coisas, até porque eu nem me lembrar direito delas me lembro - tô aqui pra falar do Rock e minha amizade com ele.
Mas de verdade, sempre que eu me encontrava com ele eu não estava lá bem das pernas. Tento me lembrar e não consigo muito sucesso. Sei que ele vinha junto com outras coisas, muitas mulheres, muita doideira, acho que é por isso que a minha memória anda faltando. Mas, acho que já falei demais, vou parando por aqui, hoje de tarde vou me encontrar com os velhos amigos Clássicos, que no final das contas foram os únicos que seguraram a minha onda. Meu pai segue dizendo aquela história de: lá vai você andando com esses velhos! E eu sigo andando com eles!
Mas, quando vocês encontrarem o Rock por aí, digam pra ele que tenho saudades, sim, saudades do tempo em que éramos jovens, irresponsáveis, doidos, bobos e com a cabeça cheia de sonhos. Digam a ele que eu aqui ainda estou vivo, que tenho ouvido falar nele e que tenho até gostado de uma ou outra coisa que ele anda fazendo. Aproveitem e digam também que ele anda muito barulhento!

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Quem somos nós? Somos 3 em 1!!! JPVeiga - Variz da Meiga e Mariz Conzê - Vou contar sobre um deles: JPVeiga Peixes, Serpente no Horoscopo Chinês, filho de Oxum, aprendeu a ler já velho, com 7 anos, o pai queria tanto que ele fosse engenheiro, quase foi arquiteto, é Diretor de Arte, Ilustrador e Pintor, escreve para crianças desde sempre. Tem 3 filhos e uma neta, é casado e não pretende mudar essa condição. Mora como os sapos - na Lagoa.