Eramos um

Poesia, Escritos, Contos e Mentiras de um cara que pensa que é três!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Crime

O Crime
Variz da Meiga

Vou matá-lo.
Sei como.
Já planejei tudo.
Todas as ações, passo a passo; até mesmo o que vou dizer e como vou me
comportar depois.
Vou matá-lo.
Matar é a única coisa em meu pensamento.
Tá bom, parece piada, mas não é! É muito sério, é papo de morte! Tenho uma
vida pacata, sossegada, amigos até dizem que sou uma pessoa zen. Mas um
monstro mora dentro de mim!
Eu descobri.
E assustado com o bicho, me peguei cutucando o danado só pra tentar ver o
tamanho da sua força.
Ele quase acordou.
Eu me senti um gigante - cabelos na língua, farpas na palma da mão, sangue
gelado.
Brincadeira?
Não é!
Estou escrevendo isso como um aviso e ao mesmo tempo tentando superar meus
medos. Esse monstro vai matar! Eu vou matar!
Com hora e local determinados, com o plano obsessivamente passado e
repassado, cada movimento exaustivamente repetido, cada palavra de despiste
decorada e novamente falada e falada e falada, até soar como verdade. Não
essas verdades cheias de detalhes, que não sou bobo! Preparei até mesmo o
timing de um soluço, de uma tirada de óculos, vai ser verdadeiro! Tem que
ser!
Todos os ângulos foram estudados. Como já disse, exaustivamente estudados e
pensados e interpretados e questionados e finalmente aprovados!

No início a coisa toda parecia apenas um pesadelo, um sonho ruim. Aos poucos
os detalhes exatos demais para serem sonhos foram surgindo. O desejo, a
volúpia, a excitação do antes crescia a cada noite, aí passei a pensar nisso
durante o dia também, e a fazer anotações e medições e marcações de tempo,
de passos, de atos, de palavras, de desculpas, de álibis, de tudo enfim,
tudo, tudo, tudo.

Agora é esperar a hora.

Bem, isso visto assim de longe, nessa calma, parece uma coisa e é outra - é
muito difícil esperar. Esperar para matar. Mas sei que estou fazendo o
certo, o necessário, o que qualquer um faria em meu lugar! Certo!

Por isso vou matá-lo!
Matá-lo, sem pretensões a finalmente executar o crime perfeito, mas sabendo
que vou sair ileso, sem culpa, inocente, cordeirinho!
Estes escritos serão deletados, queimados, apagados, nada, nenhuma anotação,
arma, plano, nada, nada vai sobrar para servir de elemento de ligação entre
o crime e a minha pessoa.
Nada!
O tempo corre, meus dedos batucam nas teclas enquanto suo um pouco na testa.
Sinto o monstro acordando.
Sim, estou sentindo o bicho se movimentando, se mexendo, se levantando; a
hora está chegando! Já é tempo de me preparar, parar com essa baboseira
sentimental de "botar pra fora", de fazer como os assassinos de cinema que
contam tudo antes de matar.
Chega!
Esta é a hora!
Este é o tempo final!
Vou me levantar desta cadeira, apagar tudo, desligar este computador, limpar
as impressões digitais e começar meu plano.
Vou matá-lo!
Matá-lo de uma vez, para poder viver tranquilo, sossegado e feliz, sem esse
imbecil, piegas, sentimental, romântico e babaca lado poético!

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Quem somos nós? Somos 3 em 1!!! JPVeiga - Variz da Meiga e Mariz Conzê - Vou contar sobre um deles: JPVeiga Peixes, Serpente no Horoscopo Chinês, filho de Oxum, aprendeu a ler já velho, com 7 anos, o pai queria tanto que ele fosse engenheiro, quase foi arquiteto, é Diretor de Arte, Ilustrador e Pintor, escreve para crianças desde sempre. Tem 3 filhos e uma neta, é casado e não pretende mudar essa condição. Mora como os sapos - na Lagoa.